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 Os Passageiros

Somos mais de 204 milhões de brasileiros.   Brasileiros que acordam cedo, tomam café da manhã e saem de casa para mais um dia de trabalho. Mas, até chegar ao trabalho, são vários os meios de transporte utilizados. Dentre os quais, se destacam os ônibus. O cenário urbano do Rio de Janeiro está se transformando com obras por todo lado.

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De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Nova Iguaçu (TransOnibus) - que coordena empresas que prestam serviços às regiões de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo e Mesquita- 27 milhões de pessoas utilizam os ônibus como meio de transporte. O número, é claro, é muito maior, se levarmos em conta que o estudo não abrange todas as regiões da Baixada.

   

Municípios que compõem a Baixada Fluminense.

Fonte Wikipédia .

Tecnicamente, estas reformas são para melhorar a vida de quem circula pelos bairros do Rio de Janeiro. Mas será? O que podemos fazer é reformular essa afirmativa e transformá-la em uma pergunta: melhoria para quem? Para quais bairros? Quais regiões do estado? Infelizmente, não podemos incluir a Baixada Fluminense como um dos “bairros maravilhas” em relação à locomoção.

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Uma das personagens que encontramos nos caminhos até chegar ao trabalho foi a diarista Maria José Pereira, de 56 anos. Moradora de São João de Meriti, ela explica que, para ir trabalhar, o trajeto é longo e o ônibus desconfortável. A profissional conta que até ratos ela já viu dentro do transporte coletivo. “Os ônibus são sujos, as condições são péssimas e a tarifa é cara”, conta.

 

São centenas no aperto da estrada, e Maria José sabe bem disso. Trabalhar como diarista faz com que ela tenha que ir a diversos locais diferentes durante a semana. Ora na zona sul, ora na zona norte, Maria também enfrenta os problemas do BRT. Além da superlotação, a sujeira dos ônibus faz com que, diariamente, a viagem fique cada vez mais cansativa.

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“ Além disso, as condições são péssimas, os ônibus são sujos e já vi até camundongos. Nós pagamos por um ônibus caro e não temos nenhum conforto. A pessoa vai trabalhar com uma blusa branca e ela volta imunda. A gente reclama e não adianta. Os bancos são quebrados e eu até já caí uma vez.”

Maria José, diarista, 56 anos

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Pode parecer comum, mas a reclamação de Maria José faz sentido quando comparamos o preço das tarifas de ônibus da Baixada Fluminense com os transportes da Região Metropolitana. Em média, por exemplo, a tarifa de uma linha que percorre Seropédica (região da Baixada Fluminense) X Coelho Neto (Zona norte da cidade do Rio) é R$ 4,00 e não tem carros com ar condicionado, conforto mínimo para o passageiro que percorre um trajeto tão longo.

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No Estado do Rio de Janeiro, a fiscalização de ônibus intermunicipais é feita pelo Departamento de Transportes Rodoviários (DETRO), órgão ligado à Secretaria de Estado de Transportes. Ou seja, ônibus que circulam entre Nova Iguaçu e Rio de Janeiro, por exemplo, são fiscalizados por este departamento. Já os ônibus que circulam dentro do próprio município são submetidos a análises de acordo com a Secretaria de Transportes de cada cidade. Por vezes, o Procon também cumpre a função de punir as empresas que não desempenham as atividades de modo correto. Uma das operações que o Procon realiza é Roleta Russa, que começou há dois anos e busca avaliar as condições dos ônibus no Estado.

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Em dezembro de 2015, o órgão interditou 44 ônibus da Viação Trel, que atua no município de Duque de Caxias. Bancos soltos, para-brisas quebrados e lanternas queimadas foram alguns dos problemas constatados pelos agentes que realizaram a ação.

Lixo, sujeira e janelas quebradas são alguns dos problemas que passageiros precisam enfrentar diariamente. Fotos dos usuários.

Em três meses de trabalho, conhecemos diversas histórias dos moradores da Baixada. Formada por 12 municípios, a região carece de diversos itens básicos para a cidadania.  Educação, saúde e segurança estão entre as principais queixas dos habitantes. O transporte público, obviamente, não fica de fora da lista de reclamações.

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Acordar cedo (bem cedo, antes mesmo do sol se pôr), pegar mais de 3 conduções por dia, ir trabalhar e ficar na casa da patroa, pois não há como ir e voltar pra casa todo dia... Essa é a rotina da maioria dos trabalhadores. Mas será que é possível manter o bom humor com o desgaste?Outra história parecida com a dos personagens anteriores é a da doméstica Sônia Rabelo, moradora de Itaguaí. Ela acorda às 4h e pega cinco transportes para chegar ao trabalho, em São Conrado. Mas, até chegar lá, o tempo de espera entre os ônibus é o que mais a incomoda. “O tempo que eu levo para chegar ao trabalho é mais estressante do que o próprio trabalho. É muito complicado você depender só de uma linha”.

"Os ônibus demoram muito e pela falta de concorrência os empresários fazem o que querem. Infelizmente, esse é o Brasil que a gente vive"

Sônia Rabelo, empregada doméstica, 53 anos. Fotografia Tayná Bandeira

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Uma das personagens que podem confirmar esse quadro é a intérprete de Libras Paola Mota, de 32 anos, moradora do Flamengo, bairro da Zona Sul da cidade. Ela nos conta que demora mais de duas horas para chegar até Paracambi, município da Baixada Fluminense, para trabalhar no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ). Na opinião dela, a falta de concorrência atrapalha muito a população. “Por não ter concorrência, a empresa oferece o serviço que ela acha que está certo. O transporte para determinados pontos da Baixada Fluminense ainda é muito escasso”, relata Paola. Para fugir dos problemas com os ônibus, a usuária pensa em se mudar para a cidade em que trabalha e sair do Flamengo.

VEJA: Sônia  conta o que faz para  enfrentar os  problemas dos ônibus

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São duas horas e meia de estrada, duas vezes por dia, cinco vezes por semana. Em uma semana de trabalho, Paola Mota gasta, em média, 25 horas no trajeto entre Flamengo - Paracambi. São cerca de 90 km de distância que, percorridos de carro, levariam a metade do tempo. Desde março, quando foi aprovada no concurso público e começou a trabalhar na área de ensino, a intérprete tem buscado alternativas para fugir do caos do transporte público.

 Vídeo Tayná Bandeira

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"TEM COMO investir

e melhorar nos transportes. Nós pagamos por isso!"

Paola Mota, Intérprete de Libras, 32 anos.

Fotografia Igor Medeiros

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Das três opções disponíveis- ônibus comum, trem e ônibus “frescão”- optou pela terceira, por conta da maior comodidade e rapidez. Entretanto, assim como os demais usuários, Paola acha que muito ainda precisa ser feito: “tem como investir e melhorar nos transportes, nós pagamos por isso”, afirma enfaticamente.

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Paola tem razão. Paga-se muito caro isso. Segundo o site oficial do Impostômetro, somente até o meio do ano, já foram mais de 800 bilhões de reais que o brasileiro tirou do bolso para pagar as contas. Mas o retorno não vem com a mesma rapidez do aumento destes impostos.

OUÇA: Paola Mota conta como foi  experiência de ir, pela primeira vez, ao novo trabalho de ônibus .

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